terça-feira, 5 de agosto de 2014

As Cem Linguagens da Criança



Ser criança é ser curioso, aguçado na pesquisa, experimentador da natureza, investigador ativo e um ser capaz de realizar, de pensar , de inferir ideias e pensamentos. Sujeito crítico e coautor do ensino-aprendizagem e mestre em amar, aquele que nos sujeita ao riso e a quem dispomos a estudar, mas no entanto nos ensina tanto.
Ser criança é poder abraçar o mundo na sua complexidade de forma simples e afetuosa, sentindo e sofrendo as dores do mundo e aprendendo a perdoar, deixando as mágoas de lado e voltando sempre com o rosto iluminado e alma aberta para desvendar mistérios da natureza e do ser humano com quem convive. É portanto agente de transformação nato, de quem os adultos deviam sempre se espelhar, amando em demasia, prontos a se humilhar, frágeis e que demonstram sentimentos e choro incontido e que grita a dor se precisar.Nada de esconder valores e sensações  para se mostrar forte em momentos de angústia, mas ver a vida com outros olhos, valorizando o tempo que se vive aqui e aproveitando dela as experiências dos erros para moldar-se e criar e recriar um mundo melhor para si e para os outros que os cercam. 
A criança é um poço de dotes dos quais pode surgir novos inventores e pensadores, formadores de opiniões e cientistas, pois não têm medo em errar, não receiam desvendar a ciência mesmo em seu senso comum,pois a conhecem e aprendem experimentando, tocando, sentindo a fundo, criando, pintando, exprimindo.Nós adultos, no entanto, somos reprimidos, temos medo do fracasso, de tentar outra vez, de passar pela vergonha, de abaixar a cabeça , de  pedir desculpas, de sermos novamente crianças, puras, delicadas, seres ternos que desfrutam de todos os momentos brincando e fazendo descobertas, escrevendo história e aprendendo com a vida a modelar sonhos e diretrizes, que logo nós adultos estamos a podar, cortando o cordão umbilical entre a criança e o saber, o interagir para compreender. Logo que começam a falar os adultos mandarão calar, se correm demais, é tempo de sentar, se tocam ouvirão para não mexer, não tocar. Mudarão os trajetos, darão apenas por escolha o certo ou errado, sem meio termo, sem argumentar escolherão por elas novos caminhos e sonharão por elas, impedindo-as que cumpram seus papéis, o de sujeito de mudança e de direito. Logo que sonham, precisam abandonar seus desejos e viver os sonhos dos pais e da sociedade que impõe, discrimina o que é melhor, e passa a fazer escolhas de outros caminhos que muitas vezes não seriam seus caminhos, deixam passar a oportunidade de aprender brincando e de amar amando, para seguir cartilhas do abc e ler o que as impõe a ler e a fazer, a produzir,a ter ao ao invés de ser.
A criança é um ser completo até ser dividida por sensações de medo, de angústias e desilusões, de estabilidade e de engessamento e fragmentos que os adultos lhe oferecem em suas relações, abandonando-as à própria sorte de ser feliz ou não. A criança será portanto um adulto suficientemente forte ou modesto, capaz ou dependente de ajuda para mudar sua realidade mediante às oportunidade  que seus responsáveis e condutores lhes acomodem na bagagem e na alma a paz, o direito de brincar e ser feliz, o de tentar e errar, o de viver sem medo, o de experimentar, correr, saltar, de viver e criar, de inventar e de se reinventar.

Paula Belmino





Este texto acima é meu parafrasear após ler o pedagogo Loris Malaguzzi , é minha reflexão sobre nossas práticas como pais e educadores e responsáveis pela infância de nosso país e de nosos tempo. O que estamos ofertando a nossos filhos , a nossos alunos?Que adultos estamos criando, produzindo e gerando?
Vale refletir!
Leiam um trecho do autor:



AS CEM LINGUAGENS DA CRIANÇA

A criança
é feita de cem.
A criança tem cem mãos
cem pensamentos
cem modos de pensar
de jogar e de falar.

Cem, sempre cem
modos de escutar
de maravilhar e de amar.
Cem alegrias
para cantar e compreender.
Cem mundos
para descobrir.
Cem mundos
para inventar.
Cem mundos
para sonhar.

A criança tem
cem linguagens
(e depois cem, cem, cem)
mas roubaram-lhe noventa e nove.
A escola e a cultura
lhe separam a cabeça do corpo.
Dizem-lhe:
de pensar sem as mãos
de fazer sem a cabeça
de escutar e de não falar
de compreender sem alegrias
de amar e de maravilhar-se
só na Páscoa e no Natal.

Dizem-lhe:
de descobrir um mundo que já existe
e de cem roubaram-lhe noventa e nove.

Dizem-lhe:
que o jogo e o trabalho
a realidade e a fantasia
a ciência e a imaginação
o céu e a terra
a razão e o sonho
são coisas
que não estão juntas.

Dizem-lhe enfim:
que as cem não existem.
A criança diz:
Ao contrário, as cem existem.

Loris Malaguzzi


*Fotos da Alice por Flávia Alves Fotografias

5 comentários:

  1. Parabéns Paula pelo texto e pela reflexão.
    Adorei o poema de Loris Malaguzzi.
    Não conhecia.
    Sucesso sempre!
    beijo

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  2. Uma linda postagem e mensagem.
    abração com carinho

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  3. Uma linda poesia e mensagem em seu texto.
    abração com carinho

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  4. Paula,minha conexão hoje está uma carroça!...rss...Que beleza de texto,posso levar pro Recanto? As fotos ficaram divinas tb! bjs,

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  5. E temos que refletir todos os dias sobre a criança de hoje em dia e nosso papel como pais na vida delas.
    Bjocas
    Dani

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