segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Minhas Gavetas




Guardo em gavetas antigas amores sonhados, platônicos, iludidos, desejados, vividos.  Dentro delas, com perfume de alfazema a infância, as brincadeiras, as árvores antigas, onde a menina se atrevia a escalar, sempre mais alto, e o pai pelo senso comum, de certo machista, dizia que menina não subia em árvore, mas ela atrevida, num instante,   ia do chão ao mais alto galho, para sentir o calor do sol no rosto, o vento levar os cabelos, como se levasse as flores desabrochadas.

  Bem guardadas em gavetas envernizadas  pelo tempo, guardo nomes sagrados: meu avô  contador de histórias, minha avó  passarinho,  vizinhos amados  que já se foram, primos, amigos, todos que se encantaram no céu, e bem acomodados, os nomes que fazem minha alma,  anunciam, contam  quem sou.

  Guardo em gavetas forradas de cetim, os sonhos, as manhãs dos livros lidos e das histórias ouvidas e contadas, vividas.

 Guardo neste armário, de gavetas imagináveis, os nomes, os cheiros, gostos, cores amareladas,  jardins.

Guardo em gavetas,  um fichário incontável da  minha história,  minhas memórias,  toda a saudade, toda vida, a poesia que habita em mim.


Paula Belmino 


Um comentário:

Renata disse...

Organizo gavetas internas, as da alma, como faço com as externas aqui em casa! Muito bonita poesia e educada de se ler.

Beijo!

Renata e Laura