A lembrança mais terna que a
menina tinha do padrinho eram dos dias de espera para as festas do padroeiro ou
de semana Santa, quando o padrinho que vivia numa cidade grande voltava à
cidade Natal para se reunir à família. A menina guardava toda a ansiedade no
coração para poder dar a bênção e receber dele com todo carinho um sorriso e a
generosa sorte:
—Deus te abençoe Paulinha e te faça feliz!
E junto com a bênção vinham
balas, presentes, às vezes um dinheiro que Paula jamais havia ganhado e com o
que compraria um tecido para um vestido novo, um calçado.
Paula não lembrava bem a
fisionomia do padrinho. Os adultos têm pressa em mudar, mas ela sabia que ele
se parecia muito com seu pai, a quem observava nas muitas fotos nos álbuns que
a sua mãe Maria Chicó, também sua madrinha sempre lhe mostrava. Na fotografia a gente permanece sempre como na
memória do coração.
A menina era quase parte da
família, vivia na casa, via Maria fazer crochê, ler, ajudava varrer um quintal
e ouvia muitas histórias sobre os filhos na cidade grande enquanto conversava
com a comadre.
A mãe de Paula era quase parte da família, e ao se casar e ter a primeira filha
viva após abortos e filho natimorto e até anjinho, tinha sido dada por afilhada
ao chefe da família, o sr. Chicó Felipe.
O dia do batizado, porém, caiu num
sábado de feira, quando a muita gente da zona rural vinha para fazer as compras
da semana, e como não pode sair da bodega, o Sr Chicó Felipe enviou o filho
Ribamar para ser padrinho por procuração, outorgando-lhe a responsabilidade de
elevar a Deus a alma da criança junto à esposa Maria, madrinha de vela e à
filha Zefinha, madrinha de apresentação.
Paula sabia esta história de cor e salteado, com ricos detalhes contados pela
mãe e pela madrinha Maria, inclusive que ela havia feito xixi no Padrinho, e
que ele muito jovem, não se zangou, mas ficou feliz pois se sentiu mesmo
padrinho por também ter sido " batizado " pela menina.
Ribamar trocou a roupa ,e voltou à cerimônia
feliz e prestativo com Paula no colo. Dessas memórias se alimentava a menina
que aguardava um ano inteiro para reencontrar a madrinha Zefinha e o padrinho
Ribamar que quando chegava parecia saído dos sonhos, e se não vinha deixava um
vazio no olhar da criança, mesmo quando a casa dos "Felipes" fervilhava
de filhos e netos em redor da matriarca.
Todas as boas histórias da vida da
menina têm seus padrinhos nelas, os almoços de semana santa, as noites do mês
de Maio e do padroeiro São Francisco, e o Natal. No Natal principalmente, as
luzes se acendiam e ela estava sempre nas fotos em frente à árvore e perto da
manjedoura, da casa dos padrinhos, por sinal uma das mais belas da cidade.
Os anos passaram. Paula cresceu, virou
mãe, assim como Ribamar, pai e avô, e ainda vive longe do seio familiar, entretanto
como se o tempo não tivesse passado, Paula ainda o espera todo ano em visita à
sua terra.
A ciranda do tempo girou, a vida
mudou, mas permanece imóvel na sua alma, a alegria dos dias de festa, no dar e
receber a bênção. Permanecem parados no tempo o padrinho a sorrir e a menina a
lembrar, pela milésima vez, que no dia do batizado, como água de batismo, o
molhou. Com amor o escolheu, de forma inusitada para padrinho, o batizou.
Paula Belmino
Feliz aniversário Padrinho José Ribamar . Vou ser sempre a menina Paulinha a lhe esperar.
2 comentários:
Que lindo te ler e que belo carinho aos tu padrinho Ribamar! Sempre esperávamos a visita dos padrinhos, não? E ainda esperas! LINDO! Parabéns pra ele também! beijos, chica
Que lindo, Paula, rotas corretas assim e que permanecem a direcionar vida afora.
Beijo!
Renata e Laura
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