Quando quero voltar meu tempo de menina, recorro aos cheiros, aos perfumes da infância, cada fragrância da simplicidade, cada ternura guardada nos aromas da casa, e do quintal onde cresci.
Minha infância tinha cheiro de tempero, das plantas da horta suspensa feita com lascas de madeira e adubo, ou numa bacia velha de zinco que quando furada ganhava a serventia de produzir ervas.
Ali na horta, minha avó depositava sementes de coentro, pequenos grãos que ora virariam chás para dor de cabeça e problemas comuns da mulher, e para outras mazelas do corpo, ora serviriam para replantar, e quando brotavam, os talos de coentro cortados perfumariam caldos de feijão, a sopa, o pirão batido, e até a farofa d'água, e podiam até, ganhar poder de curar mal olhado nas suas rezas e benzedeiras.
Minha infância tem cheiro de coentro em flor que na singeleza do nosso quintal convidava borboletas e besouros para brincar e fazer festa, pois quando estávamos no quintal, eu e minha avó a cuidar da horta, as flores brancas do coentro já maduro florescidas e prontas para serem replantadas eram colhidas, e delas novas sementes iam ao sol, ou ardiam e exalavam perfume na boca da minha avó temperando suas palavras de vida.
Já as florzinhas brancas iam das mãos dela aos meus cabelos, ou para o altar do santinho, junto com as folhas verdes do coentro misturadas à terra, que tornavam sagradas as mãos que me abençoavam e me conduziam.
Tem cheiro de coentro minha infância, no cuidar, no falar, no alimentar. Cheira a coentro minha memória afetiva, minha criança. E permanece, ainda hoje, quando saboreado o coentro, em meu paladar, se pode provar o tempero, o sabor e o cheiro do amor.
Paula Belmino
3 comentários:
Também gosto de passear pelos campos recordando a minha infância. Nasci no campo entre flores e árvores.
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Feliz domingo.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Que lindo e todos temos esses cheiros que nos remetem à infância! Adorei! beijos, chica
São cheiros que nos movem continuamente. Muito bonita poesia!
Beijo!
Renata
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