quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Uma escola de lágrimas




Choro a dor de um mundo ferido, onde a violência vai levando embora a juventude, e cisma em deixar órfãos pais e mães que amaram por tanto tempo e num sopro de vento atroz leva a semente de dentro de seu coração, sim pois quem rouba um filho despedaça a alma de seus pais e nunca mais haverá remédio que cure a ferida aberta que a violência deixa...
Choro pela falta de esperança, dos sonhos que não voam mais, pelos meninos sem escola, nos faróis sem paz
De pés descalços, a pele suja e queimada pelo sol, ardendo nos olhos a descrença por algo bom, a esmo vão andando na vida, sem ter oportunidade, sem amor, pão e real valor.
Choro a dor de um mundo ferido, onde a violência vai levando embora a juventude, e cisma em deixar órfãos pais e mães que amaram por tanto tempo e num sopro de vento atroz leva a semente de dentro de seu coração, sim pois quem rouba um filho despedaça a alma de seus pais e nunca mais haverá remédio que cure a ferida aberta que a violência deixa...
E choro também pelos filhos que são pais, que precisam cuidar da casa, ser o homem da casa, a mais velha a do lar, sem  ter tempo para brincar, sem ter um espaço para estudar, sem livros, sem roupa pra vestir, sem um sapato para calçar, muito menos o alimento necessário para crescer e se sustentar.
Meninos e meninas á deriva, sem um caminho a percorrer que os ensine as artes, a dança, a música, a ciência, a política, a ler e a escrever
Enquanto tantos  se preocupam com o quanto vale os minérios debaixo da terra, quanto custa ir á lua, cuidar da biosfera sem perceber que recursos naturais não são os maiores tesouros da vida, mas como disse Mia Couto:  O ser humano é parte do meio ambiente, sem ele nada  poderá existir e nada nele tem dono, somos todos pertencentes ao mesmo mundo, dentro de nós existem outros tipos de vida porque mataríamos nossa própria espécie e a natureza que faz parte de nós? Gastam milhões em corrupção e pregam leis que não se aplicam, dizem aos quatro ventos : Criança é ser de direito, mas roubam-lhes o direito a digna vida.
Choro por falta de escolas que acolham, que ensinem valores, que deem oportunidade de ler e serem libertos meninos e homens , jovens e mulheres, que nos livros encontrem a busca que os faça trilhar o prazer da descoberta, a prática da gentileza, a cidadania sem querer subir nas costas de ninguém, mas que haja fraternidade, consciência ambiental de verdade, um olhar melhor sobre o planeta, sobre a vida animal. Escolas que sejam encantadoras, que valorizem as professoras, que tenha lápis de colorir, tintas de todas as cores, com bancos adequados e espaços para correr e se divertir, cantinhos de aprendizagem, teatro e brinquedos, pilhas de livros a se descobrir, tapetes mágicos pra voar na imaginação, grandes árvores frutíferas. que alimentem com amor e dedicação.
Ah! eu choro ao ver meninos e meninas ao invés de sonhar assim como eu com escolas transformadoras, querer ficar o dia na rua, pois na sala de aula não há diversão, é apenas uma lousa e um pedaço de giz, o chão é áspero e desinteressante, as paredes cinzas, infeliz... E quando vão mesmo assim não recebem um abraço, a hora do pátio é cenário para apenas reproduzir os filmes de bang-bang. Falta amor, falta afeto, falta a família por perto, falta todos darem as mãos.
Choro por todas mazelas do mundo e elas são o meu travesseiro. Vivo eu a soluçar! Me consola no entanto ver que de grão em grão vejo alguns que se achavam perdidos aprenderem a ler, os tímidos se descobrir nas encenações, libertarem os sorrisos, serem fadas, princesas, heróis em ação.
Minha visão turva é iluminada por um fio de crença, no acreditar na humanidade, no esperar amanhã um novo dia, sementes de bondade a brotar e ai sorrio ao receber um obrigado, um elogio, um abraço, um até logo com saudade. E ao olhar para trás, mesmo nesse mundo turbulento vejo meus sonhos ao vento, e as lembranças a flutuar, José que aprendeu a ler, Maria que aprendeu contar, Daniela que aprendeu sorrir, Carlos que aprendeu a escrever e a sonhar, Tereza que senta com gosto na cadeira quebrada, e ao ouvir uma história quer chorar de emoção Guilherme que não se importa que as lágrimas lhe caiam ao chão...E dentro de uma escola que ainda anda longe da ideal a passos de gado vamos dando significado e resgatando valores que se perderam há tanto tempo, o respeito, a solidariedade, uma oração, um agradecimento. Ali no cinza das paredes ganha o colorido da vida, o silêncio o som de uma canção, o quadro e o giz cede lugar ao ouvir relatos e experiências os livros recebem apelo para reescrever o que se diz, e cada um vai sendo parte da história, se colocam no lugar do outro, abrem as asas da imaginação, sorriem e se tornam reis e rainhas, príncipes e princesinhas  com seus pezinhos no chão... E ai percebo que talvez de pé calçado não pudesse tocar o imaginário, corre, brincar saltar e sonho com eles que um dia estarão no palco central da vida onde possam trilhar a melhor sorte e penso que mais importante que o melhor calçado, a melhor roupa e o melhor material escolar, é ser amado e ter garantido o direito de frequentar uma escola que abram suas mentes para poderem estimular suas inteligências e suas possibilidades, e que um dia poderão ser mestres e pessoas de grande valor para a sociedade, se eu em meu soluçar  olhar melhor a eles, enxergar cada um como sujeito de mudança e oferecer-lhes minha mão  e um pedaço de meu coração, o afeto que lhes falta em casa, na sala de aula , da rua a diversão, crescerão, voarão, sonharão... Nos livros que li para eles acharão o caminho para serem livres de toda prisão.


Paula Belmino

3 comentários:

Silvanio Alves disse...

A tua sensibilidade se revela neste choro que é coletivo, Professora! São tantos sonhos destruídos nesta violência que agride o coração e a alma de tantos pais! Violência alimentada pelo sistema social imposto, poetisa! Perfeito

Anônimo disse...

Choro também, Paula, por todas estas misérias humanas. Que Deus tenha misericórdia de nós. Beijo! Renata e Laura

Bolhinhas de Sabão para Maria disse...

Oi Paula, é um choro sofrido mesmo, travado, vendo tanta injustiça, tanta aberração, enquanto políticos brigam por coisas banais, enquanto por trás sofrem as crianças sem ao menos entender nada e melhor que não entendam... E você como educadora cheia de ideais, sonhos e sensibilidade, com certeza faz toda diferença na vida desses pequenos.. E se não podemos fazer por todos, mas a diferença na vida de alguém, fazemos muito!

Lindo texto! Beijos e um fim de semana de paz!