sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Tua Mão na Minha





Mais um conto de amor, uma história para ler vivenciando cada sentimento, cada passeio, voar no passado, no presente e na poesia fazer a ponte entre sensibilidade e alma, sonho e realidade, vida e dor, pois que a morte é presente e sempre nos prega peças, deixa marcas, leva de nós o que amamos.
Recebemos o livro Tua mão na Minha de Elói Bocheco que foi mais que uma breve leitura, é alimento, é comer palavras e sentimentos, é revirar a mente do avesso e se fazer nessa história doce poesia inspiradora.
Ao ler essa linda história minha alma e minha Alice viajamos com a menina Dúnia, personagem principal do conto, que de balde na mão vai fazer os mandados da mãe, carregando água do poço, inventando histórias, conversando com os bichos, sentindo a brisa de leve no rosto, atenta á natureza em festa, sempre feliz a brincar, catar pedrinhas, deixando a água do balde derramar-se na terra quente, fazendo canoa de folhas e navegando no rio, enchendo os cabelos de peixes coloridos.
Ler faz relembrar, viver, voltar ao que se viveu recordar... Recordei então que eu assim como a menina da história também andei muito por estradas de terra aqui na minha cidade durante a infância tanto com minha mãe, como sozinha a caminho da casa de avó, na minha delicada fragilidade de menina, amada e a neta preferida e primeira da avó, minha mãe que criava para a mãe verdadeira trabalhar de dia á noite sem parar. Eu vivia assim como Dúnia ás voltas pelo quintal , brincava com folhas, flores, pimentas, não havia rio, no fundo do quintal uma lagoa com garças e pássaros a voar, a cantar, e no quintal um poço fundo onde maribondos pousavam, cachorros d'água e cágados viviam a nadar. Do poço também carregávamos água para ajudar a lavar roupa, limpar a casa, tomar banho.
Do quintal da avó, trago doces lembranças: o cheiro de café fresco pilado e torrado no terreiro, terreiro esse que era enorme e eu assim como Dúnia fugia para não varrer, pois gostava mesmo de imaginar, de voar nas histórias que meu avô contava ao pé da cama. Ele balançando a rede com os irmãos mais novos todos dentro a dormir, e eu, a menina franzina de conto e conto a se encantar, sonhar, ser feliz.
Um tempo de paz, de flor, de sonhos e quimeras, nascentes para aquecer um coração que se pusera a chorar... De saudade, do quintal, dos pássaros, do colo da avó, da voz doce que me falava, dos cafunés que como na palma da mão Dúnia e a mãe viviam a brincar... Da mão de minha avó lembro os cafunés, o cozer ( simpatia para nervo triado) quando machucávamos o pé, o braço, ela era procurada para fazer as simpatias e benzedeiras, o cozer com flor de mato, agulha e linha dizendo no seu linguajar popular construído na cultura em que vivera.
Ela perguntava: - O que é que eu cozo?
A gente respondia:
Carne triada, nervo rendido e osso torto.
E assim cozia dizendo em oração:
- Com o poder de Deus e de São Virtuoso tudo isso eu cozo!
E assim a dor passava, os nervos se curavam, o machucado desaparecia, sem médico, sem remédio, só a mão suave e a fé, a voz doce e crente, e a presença constante e milagrosa que nos acudia com carinho e afeto em panos quentes.

A história de Eloí Bocheco, trás à tona todo romantismo e poesia escondida na alma de quem viveu o amor, o viver ao lado da pessoa amada e a perdeu e agora guarda nas memórias o afeto e a saudade que nada mais é que a eternidade ramificada no corpo e alma de nosso ser
A história: Tua mão na minha é toda minha, nela me vi, me retratei, emoções a navegar, fui lida pela autora tão distante e sem nenhum conhecimento de minha vida, mas é esse mesmo o papel importante da leitura e da escrita, visitar histórias, mover lembranças, verificar sentimentos e torná-los registros de belas histórias e cenários.
Dúnia nesse conto lindo de Eloí sofre uma grande perda, a mesma dor que vivi quando menina, a primeira perda do avô maravilhoso que tive, e me trouxe o triste silêncio de não mais poder ouvir histórias encantadas, o afago e o carinho ao tom de cantigas e canções, e tempos depois a triste perda de minha avó, que silenciou como passarinho, sem sofrer, sem dar adeus. Apenas partiu e no céu foi morar, deixando no nosso coração uma memória afetiva eterna com tanta coisa para lembrar
Hoje vó Sebastiana é um pontinho no céu, uma estrela singular, a mais brilhante, um pássaro a cantar... Como a mãe de Dúnia, uma luz, um reflexo no firmamento
A voz suave e melodiosa, que cantava as mais lindas canções de ninar, agora do alto com os anjos junto com a mãe de Dúnia, as duas com tantas outras mães e avós, velando pelos seus com estrelas a plantar, com aves do céu a pastorear.
Este conto é simplesmente: Uma poesia na minha lágrima!
E a saudade no meu olhar!

Paula Belmino


Para saber mais do livro:

Em uma antiga brincadeira infantil, a menina Dúnia encontra um modo de elaborar a dor e o desamparo de uma grande perda. Descobre que pode continuar brincando o jogo infantil que aprendera com a mãe que partiu. Brincaria pela mão da avó que transmitira a brincadeira à família. A personagem tira do imaginário o ponto de apoio para continuar caminhando, porque a vida e o jogo "Tua Mão na minha" continuam, apesar de tudo.
Uma história sobre o poder de cura das palavras brotadas da imaginação e dos afetos. ( quarta capa)


TUA MÃO NA MINHA
Autor: Eloí Elisabete Bocheco
Categoria: Infantojuvenil
ISBN: 978-85-60967-48-3
Comprimento: 27 cm
Largura: 21 cm
Peso: 0,175 kg
Número de páginas: 28
Conheça mais da autora
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Eloí Elisabete Bocheco é formada em Letras pela Universidade de Passo Fundo-RS e pós-graduada em Alfabetização e Metodologias de Leitura. Atuou como alfabetizadora, professora de Língua Portuguesa e Literatura, trabalhou como animadora da biblioteca escolar, foi coordenadora do ensino de língua e literatura, dentre outras atividades ligadas ao ensino.

2 comentários:

Eloí Bocheco disse...

Querida Paula,
Fico muito emocionada com a sua leitura tão sensível e poética do livro Tua Mão na Minha. Mais ainda por poder estabelecer tantas sintonias lindas com sua memória afetiva e literária. A literatura nos oferta essa possibilidade. É maravilhoso!
Um grande e afetuoso abraço, com gratidão

Anônimo disse...

Viajei com vocês também nesta história de amor. Beijo! Renata e Laura