segunda-feira, 13 de abril de 2020

Caçadora de Borboletas






Acordo cedo com o canto do galo no quintal, e os passarinhos fazendo festa em minha janela. São pequenos pardais e colibris, rolinhas e pombos a rulhar, quem sabe um galo de campina desgarrado de seu bando, numa melodia afinada a chamar o sol.
A luz chega ao meu quarto, entra pelas frestas das portas, e das janelas, e por cima de meus olhos, abre as fendas de uma noite em pesadelo ou ansiedade. A luz e a cantoria da passarada iluminam minha alma e me convidam a ir para fora.
Escorrego-me entre os lençóis, espreguiço-me ainda cansada, piso o chão com firmeza de quem sabe está tudo bem, apesar do caos dentro de si. E com a alegria de viver a primavera, arrasto-me para sair da penumbra.
Jogo água nos olhos cansados, e aperto-os bem, é preciso abrir a visão para o que me espera logo ali. Ponho os óculos e saio, e eis que no quintal a pequena Buganvília florida, sobre ela apresenta-se um gracioso balé de flores a dançar com o vento a se abrirem às muitas borboletas, umas estampadas, outras bordadas, amarelas, alaranjadas, pretas e brancas. É quase impossível dizer qual delas é a mais bela.
 O sol queima minha face, esquenta minha cabeça, mas o vento da manhã refresca a minha alma e me perco ali, a voar com as borboletas, leve e feliz.


Esvoaço-me com asas de sonho, enxergo as cores e as formas das flores, em contraste com o céu azul claro, um quadro mágico que pincelo, enquanto me imagino ser o fruto seco no galho, onde o pequeno pássaro alisa sua asa. Já não sou mais eu, sinto-me também ser fruto,  e de repente, já sou ave.
Devaneio, ora sou folha a farfalhar no telhado, ora sou ave a piar, sou vento a dançar e também sou a cor azul



Fecho os olhos por um instante, como quem não quer acordar do sonho,e ao abri-los prendo a atenção  no pistilo da pequena flor que se abriu. Está ali o que mais me torna feliz: a borboleta a brincar de ser flor e folha a voar, beija e ama, esvoaça e pousa. Leve bailarina de vestido colorido a enfeitar o jardim.


Só assim o dia amanhece, e me despertam passarinhos, galos de campina e a luz da manhã. Canta dentro de mim o terno sonho de ser como as borboletas, leves e livres. Por  isso vou à caça delas todas as manhãs onde meu olhar cansado pode avistá-las, mesmo tendo a certeza que as almas das borboletas  sempre se acasulam em mim, e quando o sol rompe a aurora, elas abrem as asas e fazem panapaná para sair por entre meus olhos de volta ao jardim.

Paula Belmino


7 comentários:

chica disse...

Que lindo e tão bom de ler nesses dias de confinamento, onde belas mensagens precisamos ter! Adorei as fotos também! bjs, chica

Toninho disse...

Que lindo amanhecer Paula!
Nada com ver poesia em tudo que é delicadeza.
As manhãs ficam mais bonitas, os cantos mais audíveis.
O voejar de uma borboleta é sonho de nossa leveza.
A velocidade da vida na voo rasante do beija-flor.
Dias duros que temos somente com um amanhecer lindo assim,
é que vamos esperando a paz naquela manhã.
Uma semana maravilhosa para vocês.
Beijo amiga e cuidem-se bem.

" R y k @ r d o " disse...

Em tempos idos residi em pleno campo. Passava-se tal e qual como aqui é relatado. Até as flores e as borboletas apareciam com a chegada da Primavera. Tempos bonitos e saudáveis esses. Agora vivo num apartamento em plena cidade. Tudo na vida muda-.....Quantas saudades sinto
.
Uma semana feliz ... Eu Fico em Casa

Roselia Bezerra disse...

Boa tarde de Oitava de Páscoa, querida amiga Paula!
Que preciosidade de relato poético pois a natureza lhe favorece o poetar sinestésico com tanta vivência do mundo do campo. Adoro e senti canto dos pássaros ao longe.
Aqui, bem-te-vi...
Muita positividade urgente nestes tempos conturbados.
Tenha dias abençoados!
Bjm carinhoso e Pascal

Anônimo disse...

Boa noite, Paula!

Contemplar a natureza e a beleza das palavras benditas, faz renascer e fortalecer a fé, a paz.

Beijo!

Renata e Laura

chica disse...

Paula,voltei pra avisar que acabam de entrar teus céus por lá! Obrigadão! bjs e podes ver aqui:

https://ceuepalavras.blogspot.com/2020/04/ceus-da-celina-anete-e-paula-belmino.html

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Imagens maravilhosas e texto divino, sensível e encantador!
Beijos afetuosos!