domingo, 26 de julho de 2020

Tecer e enrolar a vida



Quando vovó envelheceu, vivia deitada na cama, talvez sonhasse ser menina outra vez. 
As colchas e mantas lhe cobriam, mas suas mãos pequenas e enrugadas toda a coberta enrolava. Manta virava rolo, cobertor um pedacinho de trapo enrolado.
Nas suas mãos tudo virava um fio, como sua vida.

Paula Belmino
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Foto de meus avós Galdino Simões e Sebastina Venâncio. 


Perdi meu avô aos 7 anos, mas seu afeto, sua  voz cantando e tocando numa lata, para eu me alimentar,  o cheiro do café pilado e torrado, a  sua arte natural de contar histórias nunca se perderam dentro de mim.

Guardo o seu cheiro, a voz, a figura paterna.

Da minha avó, a doçura da voz, a maneira de educar com amor, o cuidado com a casa, o aconselhar ,  os cafuné, o pentear e catar piolhos contando histórias e cantigas.


Feliz dia dos avós!!

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Sinônimo de amigo





Amigo é tesouro escondido
Pedra rara de valor
É aconchego preciso
É afinidade e amor.

Amigo é sonho alcançado
Exercício pra gente se conhecer
É respeito à diversidade
Espelho para a gente se ler.


Amigo é ternura
Uma ponte pra gente atravessar
Sair de nosso limite
Amigo nos faz voar.


Amigo é diálogo
Olhos nos olhos a falar
Amigo é um presente
Anjo de Deus a nos guardar.


Amigo é mão estendida,
Ombro amigo pra chorar
É a paz na tempestade
Calmaria em alto mar.


Amigo é presença certa,
Mesmo se ausente está
É abrigo, é casa, e colo
Amigo é coração a se amar.


Amigo é como irmão
Talvez, ainda mais se ame
Alma gêmea formado no afeto
Como é lindo este nome!


Amigo é onde habita lembranças
Dos dias felizes ou tristes
É saudade, sorriso, é poesia.
E sem amigos a vida não existe.


Paula Belmino

terça-feira, 14 de julho de 2020

Préstimo


Faço nada perante a imensidão
Que sou eu, que não uma erva,
Pau seco, à beira da estrada?
Ora, vez por outra 

a chuva cai em mim e me floresce,
enverdeço, depois seco.
Sou sempre assim necessitada, incompleta.
A multidão de aves e seres miúdos buscam redimir-me
Pouso em mim não acham, e vagam, vão embora,
Esperando que a natureza de novo refaça meu ser oco e seco.
Tenho a sorte, de vez em quando o inverno florescer
algo que preste em mim,
E me faço primavera por um instante.
De resto, nada mais sirvo,
Que não, para ser levada ao vento,
Uma semente de poesia,
Sonhando ter asa
Ser céu, ser ave.
Flor nas alturas a acolher as chuvas,
Nuvens, e ares.

Paula Belmino


segunda-feira, 6 de julho de 2020

O amor é borboleta








O amor é  delicado como asas de borboletas. 
Um vento forte demais esgarça a trama e a sutileza de suas cores.
O amor é  sensível tal como as antenas da borboleta que percebe afrontas e rumores de morte, e em qualquer terreno impróprio, desmaia e se esvai.
O amor é uma borboleta frágil e indefesa. Ferida em lugar inóspito,  moribunda, anseia a mão que a salve, o coração  bondoso que acolha, o jardim que lhe sare das agruras vividas.
O amor nasce e morre todo dia, feito a pequena borboleta machucada, com asas dilaceradas, olhos inertes, cores desbotadas... 
O amor morre na dor da inospitalidade, mas renasce em um outro jardim, numa outra flor, noutras mãos e no coração de quem sabe quanto é  terno o amor, 
Leve e raro, como asas de borboletas em dia azul claro.
O amor é uma borboleta, dengosa,
E há  de se ter por ele,  imenso cuidado
Para que renasça sempre em lugar apropriado. 

Paula Belmino