sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Maçãs para o ano novo






Véspera de ano novo.  Abre o guarda-roupa e estende sobre a cama o vestido branco. Olha-se no espelho, já tem os cabelos escovados e presos, a maquiagem feita, mas se apressa, já é tarde e na cozinha a ceia está sendo preparada: ave no forno, arroz à grega,  e descansadas na travessa  maçãs verdes para a  salada  Waldorf. 

Mexe a panela, espia o forno, põe a champanhe para gelar  e volta-se a preparar a salada.Enquanto retira as  finas fatias das cascas da maçã, ela relembra a infância quando não havia preparações para o ano vindouro,  todos os dias eram feitos de festa simples, de pé no chão,  roupa de qualquer cor e tecido, o prato na mesa era simples e feito no fogão à lenha, se esperava apenas saúde, paz e fartura na mesa. O futuro era o presente, vivido com alegria e encantamento.

 Cortou as maçãs e ao sentir o cheiro sorriu ao relembrar a primeira vez que alguém lhe disse ter plantado na frente da casa uma macieira, árvore esra que por anos foi vigiada por ela e pelas crianças da rua, aguardando verem nascer e amadurecer ali uma doce maçã verde, pois só viam a tal,  nas propagandas da tv e ainda assim em preto e branco. Lembrou ainda que houve quem dissesse ter visto a maçã cair no chão e ter provado, sentindo no paladar o seu sabor levemente ácido e aveludado,  da fruta do paraíso que atraiu por tentação Eva e Adão, verdinha, verdinha.

Agora ali, véspera de ano novo, corta entre as mãos enrugadas e trêmulas de ansiedade maçãs verdes tão facilmente encontrada nos supermercados,  por vezes insípida e sem encanto algum,  para a salada de nome estrangeira,  e também  sente-se estranhamente, pela terna  lembrança dos dias felizes que viveu sem esperar a virada do ano, com tantos preparativos,  e sem uma taça de champanhe espumada, ou uma ceia farta, mas faz para si um desejo de que para o ano novo a vida se achegue como maçã verde, doce, leve, aveludada, feito o desejo de criança descobrir o sabor da fruta desejada. Entre os preparativos para o ano novo, anseia apenas que ele venha doce e cheio de vida como uma simples maçã verde, doce, suculenta, nunca proibida,  mas ao alcance das mãos. 


Paula Belmino 



terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Menino Jesus

 



Na casa de Joca e Maria

Há sempre a chama acesa

Breve cheqa o Natal 

A manjedoura enfeita a mesa.


No simples presépio

A mais linda criança

Símbolo de amor, fé,

Alegria e esperança.


A lapinha convida a todos

Para ao menino adorar 

Tão simples, tão inocente,

Treme de frio a chorar.


Uma menina se achega

Tenta acalentar a Jesus 

É de louça o bebê 

Como também o santo na cruz.


Falta-lhe a destreza

Pois frágeis são suas mãos 

Deixa cair o Jesus menino

Aos dedos buliçosos dá lição. 


-Ai meu santinho! 

Acode Maria!_ Grita Joca.

A manjedoura  tá vazia!

Por socorro invoca.


A menina chora, pois

Não queria deixar vazio o berço 

Só aconchegar no colo

O dono do universo. 


E Maria se achega trazendo solução 

Tenta colar cada pedaço

O menino Jesus  sorri à criança 

Na sua alma dar um forte abraço. 


Jesus que sabe perdoar

E colar também coração quebrado 

Entende a linda inocência 

De quem ali chora ao seu lado.


E a menina logo se consola

Tudo volta ao normal.

Afinal é tempo de amor,  alegria,

É chegado o Natal!


E mesmo muitos anos passados 

Reaviva-se sempre a lembrança:

Na casa de Joca e Maria

Quebrou Jesus menino,  a criança. 



Paula Belmino

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A menina do poema era eu, que bem pequena quebrei o Jesus menino na casa de Joca, amigos queridos de meus avós.  Hoje lembrei vendo o presépio que minha sobrinha  Hadassa,10 anos fez.